Faltava-lhe vida. Faltava-lhe a vontade de viver que outrora tivera.
E caminhou. Sem direção, sem rumo, sem destino. Ao menos se sentia bonita. Ao menos era observada, cobiçada, adorada. Mas nada daquilo fazia o menor sentido dentro de si mesma. Seus almejos estavam longe de se concretizar e suas certezas agora não passavam de mera história. Seu passado a condenava a infelicidade. Não acreditava que pudesse haver felicidade maior do que a que já vivera.
Hesitante e pensativa, decidiu retornar para sua casa. Despiu-se. Tornou a tomar banho para ver se a água corrente levava embora toda aquela dor. E claramente isso não aconteceu.
Saiu do banho, jantou seu prato predileto, saboreando cada garfada como se fosse a última e dirigiu-se para seu aposento. No caminho, decidiu buscar o que achara ser a solução de seus problemas. Passou, então, em sua cozinha e encheu seu copo amarelo, diga-se de passagem, sua cor preferida, de água. Procurou, em um armário escondido, um vidro púrpura de sabor amargo que comprara de uma velha amiga muitos anos antes.
Acompanhado de 5 comprimidos para dormir, ela ingeriu aquele líquido incolor e infeliz e deitou-se. Acalmou-se e foi pegando no sono, com a certeza de que aquela dor aguda e aquela angustia nunca mais a incomodariam.