sábado, 26 de outubro de 2019

DIÁRIO DAS COMPULSÕES - 26/10/2019


Rio de Janeiro, 26 de Outubro de 2019

Todo ser humano vive, trabalha e se vira para suprir suas necessidades. Sejam elas materiais, emocionais, afetivas, sexuais... todo mundo gira em torno daquilo que quer, que precisa - ou que acha que precisa. Isso é, na maioria das vezes, saudável. Dá um gás legal pra gente correr atrás, pra gente se animar a fazer algo. Todo mundo quer ser, quer ter. Seja compulsivo ou não. Sendo compulsivo, a coisa muda um pouco de figura. Todo compulsivo precisa, de fato, suprir suas compulsões de alguma maneira, se não a coisa toma uma proporção surreal e a gente acaba fazendo mais merda do que faria se tivesse feito o que tinha que fazer lá no começo. Em sua grande maioria das vezes, essa compulsão nos leva para lugares que, definitivamente, não gostaríamos de estar. Principalmente porque quando você verbaliza e se assume como compulsivo, as pessoas já passam a te olhar com cara de medo. Claro, lidar com uma doença mental é algo inadmissível.

Parem. Apenas parem.
O transtorno obsessivo compulsivo atinge cerca de 2,5% da população mundial e é uma coisa até bem comum. Principalmente porque às vezes somos compulsivos e não sabemos. Eu sei que sou. Eu assumo que sou e isso não me afeta em nada. Na verdade só me afeta por conta do vício do cigarro. Vou falar disso agorinha mesmo.
Eu tenho TOC há muitos anos. Sempre tive, eu acho. No começo era engraçado e eu levava na brincadeira, como de costume. Teve uma época que deixou de ser e acabei com manias muito complicadas, como, por exemplo, tocar em todas as maçanetas de um corredor. Ou usar a meia do pé esquerdo do avesso. Meus amigos que passaram isso comigo sabem bem.  Depois de anos de tratamento a coisa se assentou e não tenho mais episódios tão característicos como repetir movimentos, ou usar a meia do pé esquerdo do avesso. Mas eu fumo. E bastante.

Tenho 37 anos, fumo desde os 11 anos de idade. Você não leu errado. Acho que fumar era moda na década de 90. Enfim, uma coisa levou a outra e eu me tornei fumante. Daquelas brabas. Já cheguei a fumar 3 maços de cigarros por dia.
Há mais ou menos 6 anos venho lutando contra esse vício de forma acirrada. Parei a primeira vez com o susto de um possível câncer de mama – na verdade existia um tumor, não cancerígeno, no meu útero e no meu ovário. Histerectomia e ooforectomia. Fiz uso de um recurso mundialmente conhecido: os famigerados adesivos de nicotina. Olha, desconheço época que eu tenha me tornado um ser humano mais horrível. Eu dormia e acordava pensando em fumar. Eu vivia pensando em fumar. Eu sonhava com o cigarro. 8 meses depois, achando que o vício estava dominado, recaí. A vergonha de fumar era enorme, mas não maior que o vício. Permaneci fumando mais 2 anos, quando comecei a ter algumas bolinhas estranhas na garganta. Confesso que sofro de uma leve hipocondria. Fiquei apavorada com as bolinhas e comecei a reparar no cheiro, no gosto e na grana que eu tava gastando. Apelei novamente para os adesivos, só que dessa vez fiz uso de um ansiolítico que ameniza os sintomas da abstinência. Olha, dessa vez foi beeeem mais tranquilo. Comecei a tomar o remédio e continuei fumando. Só poderia parar, de fato, quando o remédio começasse a fazer efeito, ou seja, em torno de 20 dias depois de começar a tomar. Combinei comigo mesma que, depois dos 20 dias, se meus cigarros acabassem num domingo depois das 18hs, eu não compraria novamente. Domingo, dia 21/01/2018 percebi, às 19:25 que fumaria meu último cigarro. E assim o fiz. No dia seguinte saí para trabalhar, passei numa farmácia, comprei os maledetos adesivos e segui minha jornada. Foram mais 8 meses. Maldição de 8, só pode ser. Recaí, mais uma vez, e voltei a fumar. Dessa vez eu voltei consciente de que tinha sido uma derrapada e que eu pararia novamente.
Bom, há 15 dias comecei a tomar o medicamento. Comprei minhas primeiras duas caixas de adesivo hoje, com previsão de chegada na terça-feira. Essa semana paro novamente. Quando chegar nos 8 meses, vou ficar trancada em casa longe de fumantes porque, vou te falar, ô coisa difícil é essa de ter um vício tão disponível quanto o do cigarro.
Amanhã conto mais do que eu to sentindo.

Beijo grande!

Ludmilla.

terça-feira, 1 de outubro de 2019

Encontrar a paz é a meta de todo mundo. Bom, pelo menos esse é o meu entendimento do que é ser humano. Caso você não se enquadre nisso, faça a gentileza de fechar essa página. Encontrar a paz... deixa eu voltar ao ponto - e certamente me perderei de novo em diversos pensamentos que insistem em me atormentar. Espera aí, deixa eu virar o ventilador porque está batendo bem na minha cara. Encontrar a paz é algo muito relativo e deveras pessoal. Há casos onde encontra-se sem buscar. Há casos que somos bem-sucedidos na busca. Há dias como hoje.

Hoje tive um dia daqueles que dá vontade de parar tudo, voltar pra casa, ligar o bendito ventilador - pro alto, porque odeio vento direto na minha cara - e dormir até o dia passar. Acordei cedo com o peso do mundo nas costas por conta de uma noite extremamente ma dormida. Sempre tenho noites ruins quando estou envolvida num projeto que ainda não acabou. Acordei e tive que tomar banho gelado porque a resistência do chuveiro desistiu de viver na noite anterior. Eu deveria ter entendido o sinal amarelo: banho gelado de manhã cedo não combina em nada com a minha pessoa. 

Admiro demais quem consegue. Troquei de roupa e fui trabalhar. Transito incrivelmente liberado - uma coisa boa para compensar o banho gelado. Cheguei no escritório, tomei meu café da manhã e iniciei minha TO DO LIST de toda manhã. Abri meu projeto - projeto esse onde, diversas vezes, me sinto o Bastian voando no lombo do Falkor - e comecei a pensar. Diversos problemas surgiram no meio do caminho que me impediram de seguir - BAstian e Falkor total. Tive que dar uma saída rapidinho pra resolver um problema com a light. Mal sabia que meu inferno astral estaria começando naquele momento. Trânsito. Blitz. Trânsito. Cheguei no bendito shopping na Zona Norte do RJ, palco de uma enchente que matou pessoas afogadas no estacionamento há alguns anos. Gives me the creeps. Subi, enfrentei uma fila imensa e, ao chegar ao guichê, fui absurdamenta mal atendida pela tal responsável pela loja. Esta, com cara de quem está com um tolete de cocô entubado no nariz, me disse que eu teria que resolver na central telefônica. Dias antes a central telefônica me informou que eu deveria comparecer a uma loja física. Daí tu pode tacar a conta pro alto e deixar pra lá? Não, claro que não. Você faz cara de quem engoliu baba de trasgo, respira fundo e sai da loja excomungando a nona geração do infeliz do marcador de luz que decidiu arbitrariamente juntar 4 meses de contas pra você pagar de uma vez. Então eu resolvi ligar pro meu advogado, pedir orientação e caminhar pro meu carro, a fim de sair daquele shopping que, de tão mal assombrado, nem praça de alimentação tem. E obviamente eu estava VARADA de fome.
Entre estacionar e voltar pro carro levei exatos  11 minutos. ONZE FUCKING MINUTOS. Quando fui passar na cancela da entrada do shopping para pagar, ouvi aquela voz suave me dizendo as palavras que eu, em alguns segundos, temeria ouvir:
- SÃO QUATRO REAIS, SENHORA!
- Deixa eu pegar minha... CADÊ MINHA CARTEIRA?
Quem me conhece sabe que não tenho uma boa relação com a minha carteira. Não chega perto da péssima relação que tenho com as chaves do meu carro. A diferença é que a chave tilinta - finge que cabe, tá? Eu adoro o verbo tilintar. Me lembra minha vó.
- AMIGA, DEU RUIM! ESQUECI MINHA CARTEIRA.
- SÓ UM MINUTINHO SENHORA, PRECISO CHAMAR O SEGURANÇA PRA ABRIR A CANCELA.
Fiquei calma. Me deparei com um sujeito de praticamente dois metros de altura. Um NOJO. Faltou me mandar levantar minha bunda gorda do carro e procurar um banco que aceitasse minha biometria. Eu acho que, na verdade, ele estava pensando que eu queria dar um calote. QUATRO REAIS, MINHA GENTE. QUATRO REAIS!
Subi cuspindo mais fogo que a Saphira, do Eragon. Entrei na administração e, dada a quantidade de palavrões que meu cérebro estava processando, minha boca não consegui falar nada em português. Naquele momento eu falava uma mistura de carioquês engasgado com toques de MANO-VOCÊ-NÃO-SABE-O-DIA-QUE-EU-TO-TENDO. O moço da administração tirou a carteira gentilmente do bolso, sacou os maledetos quatro reais e me entregou sob a condição de não tacar as duas notas de dois dentro da cueca do segurança;
Me contive. Fui embora. Por fora, sorriso insolente. Por dentro, gritos tão pavorosos que poderiam ser ouvidos do palco do Rock in Rio durante um show.
Voltei pro escritório. Cada músculo do meu corpo estava tremendo como se tivesse acabado de correr uma maratona inteira, tomando Red Bull.

Como eu encontrei minha paz?
Não encontrei. Por isso que são 1:16 da manhã e eu ainda estou escrevendo.

(força, ícone).

A SAGA DA FAXINA

Sete horas da manhã. Acordei, olhei para a casa e pensei: Hoje é um belo dia para se fazer uma faxina. Foi uma vontade totalmente espontânea...