Todo mundo sonha em viver uma grande história de amor. Daquelas dignas de filmes de Hollywood, onde, no fim da trama, o mocinho percebe que cometeu um terrível engano e se descobre completamente apaixonado pela mocinha. Então, a fim de impedir que ela embarque naquele avião, ele pega um táxi e se depara com a Oakland-Bay toda engarrafada. Preocupado em não chegar a tempo ao aeroporto, ele sai correndo e a vê de relance, pela janela de um táxi, que estava um pouco mais a frente. Ele abre a porta do carro e pede que ela não vá para Boston porque ele a ama. E faz o pedido de casamento em cima dos carros. Todos buzinam e aplaudem.
Créditos.
Não desacredito que essas
histórias existam. Mas fomos programados para acreditar que elas são tão
corriqueiras que, certamente, em algum momento, acontecerá conosco. A
frustrante realidade vem como uma tijolada pra nos mostrar que, por mais que
acreditemos, não vai. Mesmo quando duas pessoas se conhecem ao acaso (vamos
chamar de acaso o que acredito que seja destino – olha a crença do romantismo
enraizada no discurso). A conexão é imediata porque elas duas viveram situações
muito parecidas. Incontáveis coincidências que as levam a pensar que foram
feitas em par. Tudo rola numa fluidez incrível. Tão leve que se torna perfeito!
O elo entre as duas faz com elas entrem em outra dimensão quando veem o mundo
uma pelo olhar da outra. As portas estavam abertas, iluminando todo o cômodo.
Uma porta se fecha. A outra permanece escancarada.
Não conseguem se afastar por
completo. E tudo aquilo parecia estar destinado para ser um grande amor – digno
dos filmes de Hollywood – se torna um castelo pintado de azul e amarelo com
cheiro de paz e foto do pôr-do-sol em frente ao mar. Um castelo chamado
amizade.
Todos os indícios apontam que
aquela amizade é apenas subterfúgio, um atalho driblar o medo de uma nova
entrega, para aprender a lidar com os sentimentos que fogem ao alcance da
compreensão. A vida as marcou com ferro em brasa, as feriu e essas feridas
ainda estão abertas. Em uma delas já mais cicatrizadas, na outra, ainda em
carne viva. Uma é o Sol. A outra, a Lua.
Uma paralisa com a certeza de que
essa era a sua grande história de amor. Foi ela que não conseguiu fechar a
porta. A tal história de amor vivia dentro da sua imaginação. E por essa
certeza, aguardava detidamente esse despertar. Ela era a moça indo pro
aeroporto.
A frustração da vida que a
Oakland-Bay não estava engarrafada. Não tinha taxi. Não tinha Boston, nem
pedido de casamento ao som de gritos e buzinas. Esse amor de cinema criado
pelas suas crenças românticas enraizadas simplesmente não existia.
E a vida é assim.
Créditos.