Fé,
pra mim, sempre foi um tema bem complicado. Complicado no sentido de acreditar
mesmo. Fui criada em escola católica, década de 80, aprendendo que Deus punia
aqueles que não faziam exatamente o que Ele queria. Me apresentaram um Deus quase
odioso, meio raivoso, que, segundo eles, pregava que tínhamos o tal do "livre
arbítrio", mas que de livre não tinha nada porque, se o caminho que você
escolhesse fosse desaprovado por Deus, você iria sofrer na eternidade do fogo
do Inferno.
Nunca
consegui entender esse Deus que me disseram que existia.
Diziam
também que esse mesmo Deus era amor e que tudo acontecia por vontade dele. E
isso me assustava ainda mais. Como poderia Deus, onipotente, onipresente,
onisciente, ver um filho sofrendo as mazelas da vida e permitir que isso
acontecesse, se, também segundo os detentores da sabedoria divina, depois que
morrêssemos, ficaríamos ao lado dele para todo sempre apenas se fôssemos
merecedores? Merecedores? Como? Como se conquistava esse merecimento? Não era
claro. Eu não entendia.
Mas
eu cresci. Assim como minha consciência de mundo. E entendi que o Deus a quem
se referiam não passava de um reflexo das crenças interiores de cada uma dessas
pessoas. Entendi que o Deus cristão era diferente do que diziam que era. E
também entendi que eu não cabia dentro da fé cristã, talvez de forma
inconsciente porque nunca, de fato, parei para refletir a respeito de religiões
e fé.
E foi lá
pelos meus vinte e bem poucos anos conheci o espiritismo e suas variantes.
E,
pra mim, tudo começou a fazer sentido. O quebra-cabeça das dúvidas começou a se
encaixar.
Hoje,
eu profiro minha fé das mais variadas maneiras. Eu rezo, canto, entoo mantras,
jogo pro universo, emano raios, visualizo...
Mas
é ELE, meu pai, quem me arrepia a alma. É ele que faz meu corpo estremecer,
minhas pernas desobedecerem e me faz, inconscientemente, dançar.
É
meu pai, meu protetor, meu grande amigo, meu alento nas horas de desespero e
meu companheiro nas horas felizes.
Eu
entendi minha fé e, hoje, estou em paz com ela. Hoje sei que minha fé vai muito
além do clichê "fé é acreditar no que não se vê". Entendi que fé
também requer maturidade. Entendi que fé é particular, encantada, serena e
perene.
Hoje
é dia de Atotô. Atotô quer dizer silêncio. Hoje é dia de silenciar a alma pra
ouvir o coração. Porque foi lá que Jagun fez sua morada e é de lá que Jagun me
mostra o caminho certo. Atotô quer dizer silêncio. Porque, quando você se cala,
fica mais fácil de ouvir.
Atotô
ajuberô.
Awure.