Em algum momento da sua vida, você já ficou com aquela impressão de que não termina nada do que começa? Já teve a sensação de que a sua mente é uma caixa cheia de ideias vazias?
Há poucos meses aconteceram algumas coisas que me fizeram cair em um precipício de dor e reflexão. Situações que me levaram a uma profunda reflexão sobre o meu papel nessa terra e a forma como o exerço.
Como acontece em todo ferimento, sentimos a imensa necessidade de estancar a dor, seja tampando com a mão para parar o sangramento ou desferindo palavras banhadas de raiva para afastar da nossa cabeça a ideia de que tudo o que está acontecendo está intrinsicamente ligado à maneira como nós mesmos nos comportamos e nos apresentamos para o mundo.
Chamei esta de fase um.
Tomei a liberdade de nomear as fases. Chame-as como quiser. Eu acho mais organizado me organizar desta maneira. Fica mais descritivo. Sei lá. Loucura.
Quando sua visão começa a ficar menos turva e você começa a enxergar uma pequena fresta de luz, você está atingindo a fase dois. Nem sempre acontece.
Você começa e ter alguns sentimentos diferentes dos que você estava experimentando até agora. Você pensa que, se tivesse pisado no freio alguns segundos antes, o carro não teria batido. Se não tivesse reagido desproporcionalmente no momento inoportuno, aquela briga não teria acontecido. Mas não se engane. Nesta fase, o campo de visão ainda está encurtado e enxergando apenas aquela situação. As “culpas” começam a aflorar, como se estabelecer um culpado fosse te fazer se sentir menos culpado.
Então, depois de alguns momentos de total desespero, lágrimas e muita coca-zero, você começa a finalmente entender. Reconhecer. Fase três.
Essa é a a fase em que você começa a expandir esse campo de visão e perceber que, em vários momentos da sua vida que você sentiu dor, desconforto, medo, a sua fase um foi a fase final. Você não conseguiu sair dela. Ela foi tudo que você conseguiu atingir, seja pros seus planos, sonhos, relacionamentos. Você não conseguiu entender a frustração de um não, a fragilidade de um pedido de ajuda, mesmo que disfarçado de grosseria. Você sentiu uma dor tão grande (e aqui não cabe entendermos os porquês), que você precisava estancar. Você só precisava acabar com aquilo, de alguma forma e acabou. Você se afastou de pessoas por medo de conflitos. Você se afastou de lugares, por medo de gerar nos outros desconfortos com decisões que você precisava tomar para a sua vida. Você se afastou de você mesma, por medo de sua própria companhia.
Acreditem, acontece muito.
O tempo passa e você vai acumulando essas “obras inacabadas”. São essas situações – pequenas ou não – em que você não conseguiu, de fato, concluir nada. Você simplesmente optou por se afastar porque algo lhe parecia mais real, mais tangível, mais importante do que qualquer outra coisa.
E essas tais obras, de tempos em tempos, te visitam. Te revisitam. Te tonteiam.
Há obras finalizadas. Mesmo que deixem a sensação de que não foram, foram.
Há outras que você vai precisar revisitar. E talvez reescrever.
Não tenha medo. Revisite.