quarta-feira, 30 de abril de 2025

TCHAU, RITA. BEM-VINDO, VENVANSE.

 

Há um tempo meu corpo vem reclamando de algumas coisas. Do cigarro, do peso, do tratamento mal feito que eu tenho seguido para o TDAH. Como assim tratamento mal feito? Vou explicar. Há anos eu estava me tratando com uma neuro. O consultório dela era deveras longe da minha casa (pra não falar que ficava na olhota do Recreio dos Bandeirantes). E consultório longe não é nada convidativo, né? Mas eu ia. Só que, um belo dia, ao ligar para marcar a consulta, fui informada que ela não aceitaria mais nenhum plano de saúde (e que se foda os pacientes antigos). Fiquei puta, mas falei: vou procurar outro neuro.

DU-VI-DO vocês acertarem o que aconteceu?

 

Pois é. Quase 10 anos depois, eu continuava tomando meu medicamento controlado, autoprescrito. Comprando no mercado clandestino dos medicamentos controlados. Sem horário. Sem rotina. Sem educação.

Só que meu corpo reclamou. Enxaqueca absurda e frequente, dor no maxilar, coração eternamente acelerado. Irritabilidade e agressividade na ponta de uma resposta torta. Zero tolerância pra tudo: frustração, cansaço, pessoas...

Eu sabia que era do remédio. E sabia que a Rita, que há muito me acompanhava nessa minha vida louca, ultimamente, estava me fazendo mais mal do que bem. Picos muito fortes e rebotes muito intensos. Zero equilíbrio.

Então, finalmente, coloquei ação e concluí uma das metas inacabadas: encontrei uma neuropsiquiatra.

 

Eu sempre tive medo de tomar Venvanse. Tava acostumada com a Rita, já tinha meus horários bem definidos com ela. Sabia que podia tomar um comprimido a mais, caso precisasse estender meu horário de trabalho. Sabia que podia não tomar, caso não tivesse disponível. Sabia que o preço era acessível.

E qual foi a primeira coisa que a médica fez? Sim, ela trocou a Rita pelo Venvanse. Lisvenx, pra ser mais exata. Primo do Venva.

Sabe qual é o meu único arrependimento? Não ter ido ao médico antes. Que sensação maravilhosa essa tal de linearidade. Que sensação incrível é não passar o dia inteiro dormindo um cadinho e acordando. Que sensação incrível essa de dormir de verdade à noite e acordar bem. Produtividade fluindo da maneira que deve ser para um adulto funcional.

Eu sei que remédio não faz milagre. Mas olha... to quase canonizando o Venvanse. E a Risperidona também. Ela também tem seu valor.

 

Tratamento de TDAH é coisa séria. Se você não consegue sozinho, peça ajuda. Converse com os seus. Mas faça. Trate. Cuide.

 

Agora vou lá terminar meu trabalho porque tenho hora pra tomar a Risperidona e, depois dela, mais ninguém.

 

Beijos da Luda


(AUTOMEDICAÇÃO NÃO É LEGAL. ESTE POST NÃO É PROPAGANDA DE REMÉDIO. SÃO IMPRESSÕES DE UMA NEURODIVERGENTE DESCOBRINDO QUE A VIDA NÃO PRECISA SER TÃO DOLOROSA)

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

TDAH E FRUSTRAÇÃO

 

Hoje em dia, percebo um aumento significativo nas pessoas que alegam ter TDAH. Não desacredito, óbvio. Bem como não entendo o “orgulho” de verbalizar para o mundo que tem TDAH.

TDAH é um transtorno extremamente difícil. Em vários aspectos. A dificuldade de lidar com diversas coisas é tão latente, que me faz, de fato, questionar se as pessoas entendem o que é o  TDAH.

Mas hoje vou falar da frustração, que, honestamente, é a parte mais difícil para mim.

Essa semana, por algum motivo que desconheço, derrubei uma panela inteira de feijão no chão. Meio quilo de feijão fresquinho, ainda morno, desperdiçado.

Não sei se foi macumba, se foi minha coordenação motora um tanto quanto falha. Só sei que CATAPLOF. Feijão pra tudo que é lado. E quando digo isso, estou falando de feijão nas paredes da sala, debaixo da geladeira, dentro do freezer – que estava fechado – e no meu corpo todo. Um banho de feijão, literalmente.

Para uma pessoa neurotípica – pessoas neurotípicas são aquelas que não tem quaisquer transtornos como TDAH, TEA... – derrubar o feijão seria apenas cansativo e irritante. Você desperdiçou o feijão e ainda vai ter que limpar tudo, certo? Pois é. Quer saber como foi para mim? Uma pessoa com TDAH? Vou tentar descrever.

Sabe quando você tá correndo na praia, areia muito fofa e muito quente e falta muito pra você chegar na calçada? Então... mistura isso com aquela vontade de fazer xixi que chega a doer a bexiga no momento que você não encontra a chave de casa. Agora pega esses dois aí e coloca junto com aquele pernilongo que pica a cabeça do seu dedo mindinho às 4 da manhã. Depois que você misturou tudo, insere a sensação de ter perdido seu celular. Ah! E também a sensação de uma crise alérgica muito forte, que deixa o seu corpo todo coçando.

A frustração, EM MIM, uma pessoa com TDAH, é simplesmente exaustiva. A parte mais difícil de lidar. Ela me tira todas as forças para viver. Eu preciso de muito tempo para me regular. Para voltar a raciocinar. Para deixar de sentir uma dor que nem tudo isso que eu citei acima descreve com exatidão. A frustração, dependendo da situação, me deixa agressiva, introspectiva, deprimida, dolorida. Totalmente desregulada. Cansada. Exausta.

Mas Lud, foi só um feijão?

Para muitos, sim. Para mim, não foi.

Foi o rótulo de desastrada. Foram as críticas vitalícias a respeito da forma como eu faço as coisas. Foi o cansaço de ter que faxinar a cozinha que a minha namorada tinha acabado de faxinar. Foi a autocrítica. Foi o desperdício de comida. Foi a sensação de que eu realmente não sei fazer nada direito.

Hoje, no auge dos meus 42 anos, entendo que preciso me regular. Entendo que não posso passar o resto da vida deitada na cama, vendo série pra desopilar.

O que eu fiz?

Falei pra Sil que não precisava me ajudar. Eu queria fazer sozinha, como num ritual de auto perdão e autocompreensão. Coloquei The Big Bang Theory no celular. E fui, lentamente, catando, jogando água, me perdoando, me aceitando.

Limpei todos os cantos que consegui ver, porque já eram quase 3h da madrugada.

Limpei toda a geladeira, incluindo o freezer. Tirei cada peça, passei água, detergente e bactericida.

Terminei. Sentei no sofá da sala, joguei uma partida de xadrez fumando um cigarro. Fui dormir e pensei:

 

POIS É. AMANHÃ VOU TER QUE FAZER FEIJÃO.

 

Consegui me regular?

Não.

Mas sobrevivi.

E já vou botar o feijão de molho.

domingo, 19 de janeiro de 2025

ESTE NÃO É UM VÍDEO DIVERTIDO DE 30 SEGUNDOS

Percebo que, hoje em dia, as pessoas não se acanham ao dizer "não gostam de pessoas". A frase vem sempre vinculada a um sorriso cheio de orgulho.

Eu mesma já verbalizei esse sentimento diversas vezes.

Você já parou pra pensar que isso pode estar diretamente atrelado ao fato de que seu cérebro está virando uma massa com utilidade limitada porque a convivência humana que não te oferece uma catarse, uma enxurrada de dopamina a cada 15 / 30 / 90 segundos?

A dopamina é um neurotransmissor responsável por levar informações para várias partes do corpo e, quando é liberado provoca a sensação de prazer e aumenta a motivação. Essa parte eu pesquisei no Google. Mas a partir de agora eu tirei a opinião de dentro do meu orifício anal, ok? Nem precisa ler se não quiser.

Beleza, se liga no raciocínio.

Um filme tem, em média, 2hs de duração, certo? Durante um filme, você cria expectativa de que algo vá acontecer. E acontece. Uma, duas, três coisas. No máximo. Exageremos, pra ilustrar. 10 coisas. Num filme de 2 horas de duração, 10 coisas acontecem. Essas coisas aumentam a sua dopamina, tá?

Quantos 30 segundos cabem dentro de um filme? 240.

Isso mesmo que você leu. 240.

Ou seja, se você passar duas horas vendo vídeos de 30 segundos, sua dopamina vai aumentar 240 vezes.

Dá pra comparar com um filme? É o mesmo tempo, mas não dá.

Se isso que eu falei está certo ou não, eu não sei. Não tenho embasamento científico para comprovar a veracidade das minhas palavras. O embasamento que eu tenho é pessoal. Experimental. Intransferível.

Demorei para entender. Demorei para aceitar que as redes sociais estavam destruindo justamente uma  característica minha que sempre foi tão aflorada: a sociabilidade.

Crises contínuas de ansiedade. Depressão. Insônia num dia, excesso de sono no outro. Baixa tolerância a frustração. Uma tristeza profunda. Medo de sair de casa. Medo de encontrar com as pessoas, de passear. Medo.

Coisas que só amenizavam, um pouco, com aquele meme engraçado ou com vídeos de pessoas levando susto.

Demorei pra enxergar, mas enxerguei.

E to me libertando.

Este não é um vídeo divertido de 30 segundos.


TCHAU, RITA. BEM-VINDO, VENVANSE.

  Há um tempo meu corpo vem reclamando de algumas coisas. Do cigarro, do peso, do tratamento mal feito que eu tenho seguido para o TDAH. Com...