Hoje
em dia, percebo um aumento significativo nas pessoas que alegam ter TDAH. Não
desacredito, óbvio. Bem como não entendo o “orgulho” de verbalizar para o mundo
que tem TDAH.
TDAH
é um transtorno extremamente difícil. Em vários aspectos. A dificuldade de
lidar com diversas coisas é tão latente, que me faz, de fato, questionar se as
pessoas entendem o que é o TDAH.
Mas
hoje vou falar da frustração, que, honestamente, é a parte mais difícil para
mim.
Essa
semana, por algum motivo que desconheço, derrubei uma panela inteira de feijão
no chão. Meio quilo de feijão fresquinho, ainda morno, desperdiçado.
Não
sei se foi macumba, se foi minha coordenação motora um tanto quanto falha. Só
sei que CATAPLOF. Feijão pra tudo que é lado. E quando digo isso, estou
falando de feijão nas paredes da sala, debaixo da geladeira, dentro do freezer –
que estava fechado – e no meu corpo todo. Um banho de feijão, literalmente.
Para
uma pessoa neurotípica – pessoas neurotípicas são aquelas que não tem quaisquer
transtornos como TDAH, TEA... – derrubar o feijão seria apenas cansativo e
irritante. Você desperdiçou o feijão e ainda vai ter que limpar tudo, certo? Pois
é. Quer saber como foi para mim? Uma pessoa com TDAH? Vou tentar descrever.
Sabe
quando você tá correndo na praia, areia muito fofa e muito quente e falta muito
pra você chegar na calçada? Então... mistura isso com aquela vontade de fazer xixi
que chega a doer a bexiga no momento que você não encontra a chave de casa.
Agora pega esses dois aí e coloca junto com aquele pernilongo que pica a cabeça
do seu dedo mindinho às 4 da manhã. Depois que você misturou tudo, insere a
sensação de ter perdido seu celular. Ah! E também a sensação de uma crise alérgica
muito forte, que deixa o seu corpo todo coçando.
A frustração, EM MIM, uma pessoa com TDAH, é simplesmente exaustiva. A parte mais difícil de lidar. Ela me tira todas as forças para viver. Eu preciso de muito tempo para me regular. Para voltar a raciocinar. Para deixar de sentir uma dor que nem tudo isso que eu citei acima descreve com exatidão. A frustração, dependendo da situação, me deixa agressiva, introspectiva, deprimida, dolorida. Totalmente desregulada. Cansada. Exausta.
Mas Lud, foi só um feijão?
Para
muitos, sim. Para mim, não foi.
Foi o
rótulo de desastrada. Foram as críticas vitalícias a respeito da forma como eu
faço as coisas. Foi o cansaço de ter que faxinar a cozinha que a minha namorada
tinha acabado de faxinar. Foi a autocrítica. Foi o desperdício de comida. Foi a
sensação de que eu realmente não sei fazer nada direito.
Hoje,
no auge dos meus 42 anos, entendo que preciso me regular. Entendo que não posso
passar o resto da vida deitada na cama, vendo série pra desopilar.
O
que eu fiz?
Falei
pra Sil que não precisava me ajudar. Eu queria fazer sozinha, como num ritual
de auto perdão e autocompreensão. Coloquei The Big Bang Theory no celular. E fui, lentamente,
catando, jogando água, me perdoando, me aceitando.
Limpei
todos os cantos que consegui ver, porque já eram quase 3h da madrugada.
Limpei
toda a geladeira, incluindo o freezer. Tirei cada peça, passei água, detergente
e bactericida.
Terminei.
Sentei no sofá da sala, joguei uma partida de xadrez fumando um cigarro. Fui
dormir e pensei:
POIS
É. AMANHÃ VOU TER QUE FAZER FEIJÃO.
Consegui
me regular?
Não.
Mas
sobrevivi.
E já
vou botar o feijão de molho.