sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

TDAH E FRUSTRAÇÃO

 

Hoje em dia, percebo um aumento significativo nas pessoas que alegam ter TDAH. Não desacredito, óbvio. Bem como não entendo o “orgulho” de verbalizar para o mundo que tem TDAH.

TDAH é um transtorno extremamente difícil. Em vários aspectos. A dificuldade de lidar com diversas coisas é tão latente, que me faz, de fato, questionar se as pessoas entendem o que é o  TDAH.

Mas hoje vou falar da frustração, que, honestamente, é a parte mais difícil para mim.

Essa semana, por algum motivo que desconheço, derrubei uma panela inteira de feijão no chão. Meio quilo de feijão fresquinho, ainda morno, desperdiçado.

Não sei se foi macumba, se foi minha coordenação motora um tanto quanto falha. Só sei que CATAPLOF. Feijão pra tudo que é lado. E quando digo isso, estou falando de feijão nas paredes da sala, debaixo da geladeira, dentro do freezer – que estava fechado – e no meu corpo todo. Um banho de feijão, literalmente.

Para uma pessoa neurotípica – pessoas neurotípicas são aquelas que não tem quaisquer transtornos como TDAH, TEA... – derrubar o feijão seria apenas cansativo e irritante. Você desperdiçou o feijão e ainda vai ter que limpar tudo, certo? Pois é. Quer saber como foi para mim? Uma pessoa com TDAH? Vou tentar descrever.

Sabe quando você tá correndo na praia, areia muito fofa e muito quente e falta muito pra você chegar na calçada? Então... mistura isso com aquela vontade de fazer xixi que chega a doer a bexiga no momento que você não encontra a chave de casa. Agora pega esses dois aí e coloca junto com aquele pernilongo que pica a cabeça do seu dedo mindinho às 4 da manhã. Depois que você misturou tudo, insere a sensação de ter perdido seu celular. Ah! E também a sensação de uma crise alérgica muito forte, que deixa o seu corpo todo coçando.

A frustração, EM MIM, uma pessoa com TDAH, é simplesmente exaustiva. A parte mais difícil de lidar. Ela me tira todas as forças para viver. Eu preciso de muito tempo para me regular. Para voltar a raciocinar. Para deixar de sentir uma dor que nem tudo isso que eu citei acima descreve com exatidão. A frustração, dependendo da situação, me deixa agressiva, introspectiva, deprimida, dolorida. Totalmente desregulada. Cansada. Exausta.

Mas Lud, foi só um feijão?

Para muitos, sim. Para mim, não foi.

Foi o rótulo de desastrada. Foram as críticas vitalícias a respeito da forma como eu faço as coisas. Foi o cansaço de ter que faxinar a cozinha que a minha namorada tinha acabado de faxinar. Foi a autocrítica. Foi o desperdício de comida. Foi a sensação de que eu realmente não sei fazer nada direito.

Hoje, no auge dos meus 42 anos, entendo que preciso me regular. Entendo que não posso passar o resto da vida deitada na cama, vendo série pra desopilar.

O que eu fiz?

Falei pra Sil que não precisava me ajudar. Eu queria fazer sozinha, como num ritual de auto perdão e autocompreensão. Coloquei The Big Bang Theory no celular. E fui, lentamente, catando, jogando água, me perdoando, me aceitando.

Limpei todos os cantos que consegui ver, porque já eram quase 3h da madrugada.

Limpei toda a geladeira, incluindo o freezer. Tirei cada peça, passei água, detergente e bactericida.

Terminei. Sentei no sofá da sala, joguei uma partida de xadrez fumando um cigarro. Fui dormir e pensei:

 

POIS É. AMANHÃ VOU TER QUE FAZER FEIJÃO.

 

Consegui me regular?

Não.

Mas sobrevivi.

E já vou botar o feijão de molho.

domingo, 19 de janeiro de 2025

Este não é um vídeo divertido de 30 segundos.

Percebo que, hoje em dia, as pessoas não se acanham ao dizer "não gostam de pessoas". A frase vem sempre vinculada a um sorriso cheio de orgulho.

Eu mesma já verbalizei esse sentimento diversas vezes.

Você já parou pra pensar que isso pode estar diretamente atrelado ao fato de que seu cérebro está virando uma massa com utilidade limitada porque a convivência humana que não te oferece uma catarse, uma enxurrada de dopamina a cada 15 / 30 / 90 segundos?

A dopamina é um neurotransmissor responsável por levar informações para várias partes do corpo e, quando é liberado provoca a sensação de prazer e aumenta a motivação. Essa parte eu pesquisei no Google. Mas a partir de agora eu tirei a opinião de dentro do meu orifício anal, ok? Nem precisa ler se não quiser.

Beleza, se liga no raciocínio.

Um filme tem, em média, 2hs de duração, certo? Durante um filme, você cria expectativa de que algo vá acontecer. E acontece. Uma, duas, três coisas. No máximo. Exageremos, pra ilustrar. 10 coisas. Num filme de 2 horas de duração, 10 coisas acontecem. Essas coisas aumentam a sua dopamina, tá?

Quantos 30 segundos cabem dentro de um filme? 240.

Isso mesmo que você leu. 240.

Ou seja, se você passar duas horas vendo vídeos de 30 segundos, sua dopamina vai aumentar 240 vezes.

Dá pra comparar com um filme? É o mesmo tempo, mas não dá.

Se isso que eu falei está certo ou não, eu não sei. Não tenho embasamento científico para comprovar a veracidade das minhas palavras. O embasamento que eu tenho é pessoal. Experimental. Intransferível.

Demorei para entender. Demorei para aceitar que as redes sociais estavam destruindo justamente uma  característica minha que sempre foi tão aflorada: a sociabilidade.

Crises contínuas de ansiedade. Depressão. Insônia num dia, excesso de sono no outro. Baixa tolerância a frustração. Uma tristeza profunda. Medo de sair de casa. Medo de encontrar com as pessoas, de passear. Medo.

Coisas que só amenizavam, um pouco, com aquele meme engraçado ou com vídeos de pessoas levando susto.

Demorei pra enxergar, mas enxerguei.

E to me libertando.

Este não é um vídeo divertido de 30 segundos.


sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Carta para Nala

 Oi, Naleta.

Quarta fez uma semana que você se foi. Hoje acordei sentindo uma saudade esmagadora no meu peito. Fui lá no canil ver seu irmão, mas ele ainda tá com dificuldades para comer. Vou levar ele na tia vet.

Ele fica o tempo todo deitado no mesmo lugar que você dormiu pela última vez. É, filha... ele tá com muita saudade de você.

Sabe filha, eu to naquela fase em que eu to me perguntando se eu poderia ter feito alguma coisa. Por que você não chorou? Não latiu? Não me chamou? Você só deitou e dormiu, filha. A mamãe ainda tá muito confusa e sentindo uma dor do tamanho do mundo.

Eu quero que você saiba, filha, que eu te amei intensamente. Você era sim minha filha. Você é. E sempre vai ser.

Eu espero, de coração, que você esteja bem. Que esteja feliz, brincando com a sua irmã Pérola e com “suplimo” Huffos.

Ainda não acredito que vocês dois se foram.

Por enquanto, filha, eu ainda não consigo sequer pensar em você sem chorar. Essa ferida ainda tá sangrando. Eu to tentando ficar de boa, você sabe como eu sou. Não sou de falar dessas coisas. Mas confesso pra você que tem sido bem difícil.

 

Amo você. E sinto sua falta. Todos os dias.

domingo, 8 de setembro de 2024

A GRANDE ENGENHEIRA DAS OBRAS INACABADAS

Em algum momento da sua vida, você já ficou com aquela impressão de que não termina nada do que começa? Já teve a sensação de que a sua mente é uma caixa cheia de ideias vazias? 

Há poucos meses aconteceram algumas coisas que me fizeram cair em um precipício de dor e reflexão. Situações que me levaram a uma profunda reflexão sobre o meu papel nessa terra e a forma como o exerço.
Como acontece em todo ferimento, sentimos a imensa necessidade de estancar a dor, seja tampando com a mão para parar o sangramento ou desferindo palavras banhadas de raiva para afastar da nossa cabeça a ideia de que tudo o que está acontecendo está intrinsicamente ligado à maneira como nós mesmos nos comportamos e nos apresentamos para o mundo. 

Chamei esta de fase um.

Tomei a liberdade de nomear as fases. Chame-as como quiser. Eu acho mais organizado me organizar desta maneira. Fica mais descritivo. Sei lá. Loucura.

Quando sua visão começa a ficar menos turva e você começa a enxergar uma pequena fresta de luz, você está atingindo a fase dois. Nem sempre acontece. Você começa e ter alguns sentimentos diferentes dos que você estava experimentando até agora. Você pensa que, se tivesse pisado no freio alguns segundos antes, o carro não teria batido. Se não tivesse reagido desproporcionalmente no momento inoportuno, aquela briga não teria acontecido. Mas não se engane. Nesta fase, o campo de visão ainda está encurtado e enxergando apenas aquela situação. As “culpas” começam a aflorar, como se estabelecer um culpado fosse te fazer se sentir menos culpado.


Então, depois de alguns momentos de total desespero, lágrimas e muita coca-zero, você começa a finalmente entender. Reconhecer. Fase três. 

Essa é a a fase em que você começa a expandir esse campo de visão e perceber que, em vários momentos da sua vida que você sentiu dor, desconforto, medo, a sua fase um foi a fase final. Você não conseguiu sair dela. Ela foi tudo que você conseguiu atingir, seja pros seus planos, sonhos, relacionamentos. Você não conseguiu entender a frustração de um não, a fragilidade de um pedido de ajuda, mesmo que disfarçado de grosseria. Você sentiu uma dor tão grande (e aqui não cabe entendermos os porquês), que você precisava estancar. Você só precisava acabar com aquilo, de alguma forma e acabou. Você se afastou de pessoas por medo de conflitos. Você se afastou de lugares, por medo de gerar nos outros desconfortos com decisões que você precisava tomar para a sua vida. Você se afastou de você mesma, por medo de sua própria companhia. 

Acreditem, acontece muito.

O tempo passa e você vai acumulando essas “obras inacabadas”. São essas situações – pequenas ou não – em que você não conseguiu, de fato, concluir nada. Você simplesmente optou por se afastar porque algo lhe parecia mais real, mais tangível, mais importante do que qualquer outra coisa.

E essas tais obras, de tempos em tempos, te visitam. Te revisitam. Te tonteiam.

Há obras finalizadas. Mesmo que deixem a sensação de que não foram, foram.

Há outras que você vai precisar revisitar. E talvez reescrever.

Não tenha medo. Revisite.

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

ATOTÔ

 

Fé, pra mim, sempre foi um tema bem complicado. Complicado no sentido de acreditar mesmo. Fui criada em escola católica, década de 80, aprendendo que Deus punia aqueles que não faziam exatamente o que Ele queria. Me apresentaram um Deus quase odioso, meio raivoso, que, segundo eles, pregava que tínhamos o tal do "livre arbítrio", mas que de livre não tinha nada porque, se o caminho que você escolhesse fosse desaprovado por Deus, você iria sofrer na eternidade do fogo do Inferno.

 Nunca consegui entender esse Deus que me disseram que existia.

Diziam também que esse mesmo Deus era amor e que tudo acontecia por vontade dele. E isso me assustava ainda mais. Como poderia Deus, onipotente, onipresente, onisciente, ver um filho sofrendo as mazelas da vida e permitir que isso acontecesse, se, também segundo os detentores da sabedoria divina, depois que morrêssemos, ficaríamos ao lado dele para todo sempre apenas se fôssemos merecedores? Merecedores? Como? Como se conquistava esse merecimento? Não era claro. Eu não entendia.

Mas eu cresci. Assim como minha consciência de mundo. E entendi que o Deus a quem se referiam não passava de um reflexo das crenças interiores de cada uma dessas pessoas. Entendi que o Deus cristão era diferente do que diziam que era. E também entendi que eu não cabia dentro da fé cristã, talvez de forma inconsciente porque nunca, de fato, parei para refletir a respeito de religiões e fé.

E foi lá pelos meus vinte e bem poucos anos conheci o espiritismo e suas variantes.

E, pra mim, tudo começou a fazer sentido. O quebra-cabeça das dúvidas começou a se encaixar.

Hoje, eu profiro minha fé das mais variadas maneiras. Eu rezo, canto, entoo mantras, jogo pro universo, emano raios, visualizo...

Mas é ELE, meu pai, quem me arrepia a alma. É ele que faz meu corpo estremecer, minhas pernas desobedecerem e me faz, inconscientemente, dançar.

É meu pai, meu protetor, meu grande amigo, meu alento nas horas de desespero e meu companheiro nas horas felizes.

Eu entendi minha fé e, hoje, estou em paz com ela. Hoje sei que minha fé vai muito além do clichê "fé é acreditar no que não se vê". Entendi que fé também requer maturidade. Entendi que fé é particular, encantada, serena e perene.

Hoje é dia de Atotô. Atotô quer dizer silêncio. Hoje é dia de silenciar a alma pra ouvir o coração. Porque foi lá que Jagun fez sua morada e é de lá que Jagun me mostra o caminho certo. Atotô quer dizer silêncio. Porque, quando você se cala, fica mais fácil de ouvir.

 

Atotô ajuberô.

 

Awure.

quinta-feira, 16 de junho de 2022

A SAGA DA FAXINA

Sete horas da manhã. Acordei, olhei para a casa e pensei: Hoje é um belo dia para se fazer uma faxina. Foi uma vontade totalmente espontânea. Acreditem.

Comecei a faxina pelo meu quarto. Óbvio. Uma boa faxina deve começar pelo lugar onde você recarrega suas energias. Passei aspirador, troquei a roupa de cama e fui organizar o armário. Umas roupinhas fora do lugar. Nada demais. Dobrei as duas primeiras blusas e me deparei com uma blusa que eu tenho absoluta certeza que foi estrategicamente posicionada pelo demônio responsável pela desorientação das pessoas com TDAH. Olhei e pensei: será que ainda cabe?

Vesti e pensei: Vou olhar no espelho (que fica localizado no banheiro). Ao passar pela copa para entrar no banheiro, vi o cesto de roupa suja. Já separei umas roupinhas para lavar e me dirigi até a lavanderia a fim de colocá-las para bater. Claro, melhor colocar agora porque a máquina demora pra finalizar o ciclo.  Voltei para me olhar no espelho e passei pela porta do quintal. O cachorro pulou e fui fazer um carinho. Percebi que o quintal estava sujo e que a água deles estava no ponto de trocar.  Prontamente puxei a mangueira e fui lavar o quintal. E, ainda com a blusa (a que eu ia olhar no espelho se ainda cabia), pensei: melhor tirar a blusa porque está limpa e vai sujar. Tirei.

Lavei o quintal, catei as fezes caninas e percebi que a lâmpada do quintal estava queimada. Deixei a mangueira aberta e fui na copa para pegar uma lâmpada nova. Eu lembrei que a lâmpada estava queimada e comprei quando fui ao mercado. Uns três meses atrás. Tocou o celular. Era mamãe querendo saber do meu dia. Atendi e sentei no sofá da sala para falar com mamãe. Enquanto falava com mamãe, taquei um fone de ouvido e fui lavar a louça (para otimizar o tempo, afinal, é dia de faxina). A tampa de uma das panelas estava extremamente engordurada e cheia daquelas coisinhas pretas que ficam nos cantinhos mais perversos. Coloquei de molho do Cloro Vim que uso para desengordurar as coisas e fui procurar um bombril. Não tinha. Bora na mercearia da esquina. Passei no quarto e peguei outra blusa (a que eu tirei para colocar a que eu ia experimentar estava no chão, a que eu experimentei estava pendurada na porta do quintal) e saí.

Comprei o bombril, uma coca zero, alface, grão de bico (que não sei nem fazer), pão de forma integral, requeijão e rúcula. Voltei. E tudo isso com mamãe no telefone. Tirei a blusa e deixei em cima da mesa da sala. Fiz um sanduíche de rúcula com requeijão e sentei no sofá para comer. Depois fui terminar de desengordurar o raio da tampa da panela. Falando com mamãe surgiu o assunto "água" e CACETE! DEIXEI A MANGEIRA ABERTA. Fui no quintal para fechar a mangueira e terminei de arrumar as coisas. Botei água para os dogs e voltei para dentro de casa. A máquina tinha acabado de bater a roupa. Tirei toda a roupa de dentro da máquina e coloquei no varal de pé. Tocou o telefone. Mensagem do trabalho. Sentei no escritório para resolver o que me pediram às 11hs da manhã. 

01:25 da madrugada: Ainda estou aqui, no escritório, trabalhando.

 

E a casa?

Ah, amanhã eu termino.


quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

 Não sei quanto tempo

Há na distância e no silêncio 

Mas meu eu desaprendeu

A ser eu sem você 

 

Não há um bom dia

Sem meu bom dia preferido

Não sei trilhar

Sem pensar na próxima trilha 

 

Há um eu em mim que se sabe por inteiro

Mas esse eu simplesmente não quer

Existir sem o teu. 

 

Volta pra casa que teu canto está vazio

Que eu quero voltar pro meu abraço casa

O lar que conheço e que simplesmente me faz

Sinto falta de ti, meu cheirinho de paz

 


TDAH E FRUSTRAÇÃO

  H oje em dia, percebo um aumento significativo nas pessoas que alegam ter TDAH. Não desacredito, óbvio. Bem como não entendo o “orgulho” d...