terça-feira, 12 de janeiro de 2021

 

No final de 2020 peguei COVID. Sei exatamente o dia que peguei, porque foi justamente na minha primeira aglomeração. 02/11/2020. Fui fotografar. Precisava complementar minha renda porque sofri reduções salariais bruscas ao longo do ano da pandemia. Entretanto, independente do quanto meu salário tenha sido reduzido, eu nunca parei de produzir. Dava aula para 4 turmas por dia, de segunda a quinta. Gravava 16 vídeo aulas por semana, de turmas entre o segundo e o quinto ano. Essas eram as minhas principais funções. Dentre outras milhares de coisas que fazia. Na mesma semana que comecei os sintomas do COVID precisei faltar duas aulas, porque estava realmente me sentindo mal e também mandei um e-mail pedindo minha redução de função e de carga horária, tendo em vista que precisava, de fato, fazer outra coisa para que a grana entrasse e eu pudesse me sustentar novamente. 3 dias depois um email suspendendo meu contrato de trabalho por ter causado prejuízos para a instituição devido as duas faltas da semana anterior. EU ESTAVA COM COVID! E assim mesmo! Por email. Distante. Seco. Frio. Feio. Confesso que não me espantou porque ao longo dos 3 longos anos que trabalhei lá vi isso acontecer com outras pessoas. Digo longos porque, por nunca ter sido uma funcionária regular, eu vivia cada um dos minutos que ali estava. Chegava mais cedo que todos, saía mais tarde. Sempre. Dava aula no turno da manhã, gerenciava o que precisava gerenciar a tarde. Nunca hesitei em pegar meu carro e viajar de bate e volta para região dos lagos para fazer reuniões, resolver problemas que, de fato, não eram meus. Fiz muito mais do que recebia para fazer e sempre fiz com gosto, porque meu trabalho nunca foi somente trabalho. Eu simplesmente amava o que fazia. Chegar na escola as 7 da manhã e ser recepcionada com aquelas carinhas pequenas e inchadas era o máximo! Meu combustível. Depois, mesmo exausta, mesmo sentindo dores que ninguém poderia dimensionar (porque não sou muito de falar do que sinto), eu voltava pro escritório e fazia tudo de novo, sempre pensando em apresentar melhores resultados. Sempre pensando em levar para os meus alunos e os alunos de tantas outras escolas o melhor que poderíamos dar. Lutei por uma causa que não era tão minha quanto achei que era. E fui descartada, como se nunca tivesse pro ali passado.

Até agora não me encontrei em mim mesma. Não sei o que vai ser de mim quando anunciarem o retorno das aulas. Porque não era qualquer escola, era aquela escola. Não eram quaisquer alunos, eram aqueles alunos. Porque eu sou assim. Sou por inteiro onde quer que eu pise.

Estou recomeçando. Hoje numa carreira diferente. Aos 38 anos me pego na cadeira de aluna, aprendendo como fazer, como melhorar, como crescer. O tempo é cruel muitas vezes, mas dessa vez ele está sendo meu aliado. Porque, por mais que eu tenha passado por tudo que passei (e ainda estou passando), não me falta absolutamente nada. Não me falta um teto, comida, afeto, amor. Não me falta apoio daqueles que estão comigo pro que der e vier. Não me falta uma família que me auxilia, seja me ajudando a pagar as contas, seja me ouvindo lamentar, seja me incentivando porque estou emagrecendo e cuidando mais da minha saúde.

Esse desabafo não é um gesto de autopiedade, tampouco um desabafo de autolamentação. Na verdade é o oposto disso. É um desabafo de gratidão.

Gratidão ao Poder Superior por me mostrar, sempre, quem é quem. Por me manter intacta contra esse tipo de maldade, contra essa falta de humanidade. É gratidão por ter na minha vida pessoas que me procuram só para saber como estou, se está pintando algum job, se está faltando alguma coisa. Por ter na minha vida seres humanos que são, muito mais do que precisam aparentar ser.

Não adianta ter um postura de compaixão com o próximo se não cuidas daqueles que estão ao seu lado. Cuide dos teus! Sempre!

Não to curada ainda. A dor de vez em quando me pega firme e me deixa pequenininha, querendo colo. Há dias que quero gritar, outros me enfio numa concha e só consigo pensar. Mudar de rumo requer uma bússola bem alinhada e a minha ainda não está.

E apesar disto, sou grata!

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